quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Polícia Federal deflagra a 22ª fase da Lava Jato e cumpre 23 mandados

A Polícia Federal (PF) cumpre a 22ª fase da Lava Jato na manhã desta quarta-feira (27) em São Paulo e Santa Catarina. Serão cumpridos 23 mandados judiciais, sendo 6 de prisão temporária e 15 mandados de busca e apreensão e dois de condução corcitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento. Em São Paulo, a ação ocorre na capital, Santo André e São Bernardo do Campo e, em Santa Catarina, em Joaçaba.
A operação foi batizada de Triplo X e apura a existência de estrutura criminosa destinada a proporcionar a investigados na operação policial a abertura de empresas offshores e contas no exterior para ocultar e dissimular o produto dos crimes de corrupção, notadamente recursos oriundos de delitos praticados na Petrobras.
A investigação também apura a ocultação de patrimônio através de um empreendimento imobiliário. De acordo com a PF, existe a suspeita de que uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato teria se utilizado do negócio para repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras.
Entre os crimes investigados na atual fase estão corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Oitenta policiais participam da ação.
A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida em preventiva, que é quando o investigado fica preso à disposição da Justiça sem prazo pré-determinado. Os presos serão levados para a Superintendência da PF, em Curitiba.
21ª fase
Deflagrada no dia 24 de novembro e batizada de “Passe livre”, a 21ª fase prendeu o pecuarista José Carlos Bumlai sob a suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
O nome do empresário, que é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apareceu em depoimentos de colaboração premiada de Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, e do lobista Fernando Baiano.
De acordo com o juiz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Bumlai, Eduardo Musa relatou que recebeu 720 mil dólares de propinas em depósitos feitos em conta na Suíça, com pagamentos feitos por Fernando Schahin, ex-executivo do grupo.
Além disso, o delator declarou que foi utilizado um argumento tecnicamente falso para o direcionamento da contratação da Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000.
Baiano afirmou que Bumlai recebeu R$ 2 milhões em propina. O dinheiro, conforme colaboração premiada do lobista, era o pagamento em virtude da intermediação de Bumlai junto ao ex-presidente Lula para um contrato com a petrolífera.
Em novembro de 2015, Bumlai foi chamado a depor na CPI da Câmara para falar da suspeita de que teria intermediado empréstimo de R$ 60 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Banco Schahin, mas o pecuarista ficou em silêncio diante das perguntas dos deputados.
Bumlai conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para exercer o direito de ficar calado.
O empresário está preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba.
No dia seguinte, a PF também prendeu o sócio do banco BTG Pactual André Esteves. Ele é suspeito de planejar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O banqueiro já foi o 13º mais rico do país e cumpre prisão domiciliar desde dezembro do ano passado.
Além dele, também foram presos o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o chefe de gabinete dele, Diogo Ferreira, e o advogado Édson Ribeiro.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Mensagens apreendidas pela PF mostram atuação de Geddel para OAS



Mensagens apreendidas pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato revelam que o ex-vice-presidente da Caixa, ex-ministro e ex-deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) teria usado sua influência política para atuar em favor de interesses da construtora OAS dentro do banco público e também na Secretaria de Aviação Civil e junto à prefeitura de Salvador.

Ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula, Geddel atuou como vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa entre 2011 e 2013. Atualmente, ele é presidente do PMDB na Bahia.

Relatório da PF ao qual a TV Globo e o G1tiveram acesso mostra uma série de mensagens trocadas entre Geddel e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro entre 2012 e 2014. O material foi apreendido pela Polícia Federal no celular do empreiteiro. À época, Pinheiro ainda estava à frente da construtora.

O ex-dirigente da OAS já foi condenado pela Justiça Federal, em primeira instância, a 16 anos e quatro meses de prisão acusado de cometer os crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele chegou a ser preso pela Lava Jato em novembro de 2014, mas, atualmente, está recorrendo da condenação em liberdade.

As mensagens apreendidas no celular de Léo Pinheiro também mostram que Geddel usou sua proximidade com o ex-presidente da OAS para solicitar doações eleitorais para ele próprio – na eleição de 2014, quando foi derrotado na disputa por uma cadeira no Senado – e para candidatos do PMDB baiano.

Transolímpica

Em um dos trechos do relatório da PF, Léo Pinheiro envia, em 19 de abril de 2013, uma mensagem a um interlocutor identificado como "Gustavo" reproduzindo um texto que recebeu de Geddel.

Na mensagem – na qual o ex-deputado chama o empreiteiro de "amigo" –, Geddel trata da Transolímpica, via expressa para carros com corredor de ônibus BRT que liga o Recreio dos Bandeirantes a Deodoro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O empreendimento é uma das obras de infraestrutura realizadas para as Olimpíadas de 2016.

A Transolímpica foi construída pelo consórcio Rio Olímpico, formado pela CCR (33,33%), pela Odebrecht TransPort Participações (33,33%) e pela Invepar, empresa do grupo OAS (33,34%).

"Amigo,aquele assunto da Trabsolimpica,questão da trava domicilio/notificação da nossa parte ta solucionado Mandei o pessoal enviar uma minuta e se concessionária der ok,ja
liberamos os 30 abs", escreveu Geddel ao então presidente da OAS.

Segundo a Autoridade Pública Olímpica, o valor total da obra da ligação Transolímpica (via expressa e desapropriações) é de R$ 2,174 bilhões.

Doações

Em outubro de 2012, em meio à campanha para as eleições municipais, Geddel envia uma mensagem a Léo Pinheiro avisando que o ex-diretor financeiro da OAS Mateus Coutinho apenas aguardava autorização de Pinheiro para fechar uma doação eleitoral ao PMDB baiano.

"Amigo, fale com Mateus quero fechar essas coisas aqui, ele esta precisando so de sua autorização", escreve o peemedebista.

Em outra mensagem, no dia 15 de outubro de 2012, Geddel agradece por algo e cobra Pinheiro, alertando-o que a eleição municipal seria realizada no dia 28 daquele mês. "Gratissimo,mas lembre-se que a eleição ja é dia 28 abs", escreve.

Um dia depois, o ex-presidente da OAS escreve ao peemedebista questionando-o sobre quem Mateus Coutinho, então diretor financeiro da empreiteira, deveria procurar para tratar da doação.

No dia 17, Léo Pinheiro envia uma mensagem para o celular do fundador da OAS, César Mata Pires Filho: "O Gordinho me ligou pedindo apoio para Conquista. Vc pede para Mateus ligar para o Lucio(irmão) e combinar, sem vinculo, pois o Compositor está muito empenhado lá. Acho que 150 está bom."

Segundo as investigações, uma das formas que Pinheiro utilizava para se referir a Geddel Vieira Lima era pelo apelido de "Gordinho". O nome "Lúcio" que aparece na mensagem é uam referência ao atual deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel.

A Polícia Federal aponta que o nome "Compositor" era utilizado por empreiteiros para se referir ao atual ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, que, à época, era governador da Bahia.

Minutos após enviar a mensagem a César Mata Pires Filho, Léo Pinheiro envia uma mensagem para Geddel avisando que Mateus Coutinho irá procurar Lúcio Vieira Lima para tratar da doação.

'Desconforto'

Em outra troca de mensagens entre Pinheiro e Geddel, já em meio à eleição de 2014, quando o peemedebista concorria a uma cadeira no Senado, o executivo cita uma mensagem enviada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ele em que o peemedebista reclama do fato de ele ter depositado "5 paus" diretamente para o Michel, referindo-se supostamente ao vice-presidente da República, Michel Temer.

Na conversa, Cunha menciona o nome do ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco – um dos aliados mais próximos do vice-presidente – e do ex-deputados do PMDB Henrique Eduardo Alves (atual ministro do Turismo), além de Geddel Vieira Lima.

"E vc ter feito 5 paus para MICHEL direto de uma vez antes. Todos souberam e dá barulho sem resolver os amigos", escreveu Cunha.

Por fim, o deputado do PMDB disse que outros colegas de partido estavam "chateados" com o depósito que havia sido feito para Temer.

Ao citar a troca de mensagens com Cunha, Léo Pinheiro afirma a Geddel que "gostaria de lhe explicar claramente o ocorrido e sobretudo o porquê" da doação feita a Temer.

"Vc merece e assim farei uma explicação e satisfação,pois lhe temos como um gde Amigo. Estou preocupado por ter lhe causado
esse desconforto e insatisfação em relação a nós. Espero lhe justificar o ocorrido. Gde abraço e vamos à vitoria. Léo Pinheiro", diz o executivo.

Logo depois, Vieira Lima responde a Pinheiro e o trata como "amigo". No texto, o ex-deputado afirma que não tratou "de nenhum tema" com Cunha que poderia ter levado o presidente da Câmara a dizer que ele havia ficado chateado com a doação a Temer.

"Estou verdadeiramente surpreso. Você não me deve explicação nenhuma sobre nenhum assunto. abraço", diz Geddel.

"Exquece isso Vc é meu amigo, e as dificuldades existem para serem superadas, estou superando as minhas, e tenho a sensação que vc terá um Senador da República amigo seu abraço Geddel", complementa.

Aeroportos

As conversas entre Geddel e Léo Pinheiro também sugerem que o então vice-presidente da Caixa atuou junto ao ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco em favor da OAS.

De acordo com as mensagens, a empreiteira buscava uma ajuda do peemedebista para participar da concessão de aeroportos, como Confins, em Belo Horizonte, e Galeão, no Rio de Janeiro.

"Martelo batido:pode participar. Conversaremos na Terca Lhe prometi noticias hj, ai esta mensagem que acabo de receber de MF abs", diz Geddel.

"MF", segundo os policiais, seria a sigla utilizada por Pinheiro para se referir a Moreira Franco. "Me disse ele que solução nos contempla Parabéns abs Geddel", completa o ex-deputado.

Quatro dias depois, Léo Pinheiro responde: "Não. 15 de 100 é muito pouco. Não resolve. Ficaria assim: Infraero- 49% Operador-25% Nós-15% Outros-11%".

"Ok Estarei com nosso amigo logo mais O numero i 25?", responde Geddel.

"Acho que sim. 25 a 30", diz Pinheiro logo depois.

O que disseram os citados

À GloboNews, Geddel Vieira Lima afirmou que não foram cometidas "irregularidades". Em relação às negociações com a Caixa, ele disse que sua função era "atrair empresários para o banco".

Segundo o ex-deputado do PMDB, como Léo Pinheiro era um dos maiores empresários do país, o empreiteiro o procurava e ele o atendia "por telefone, mensagens e pessoalmente". Geddel destacou que atuava da mesma forma com outros empresários.

Sobre as doações eleitorais, o peemedebista ressaltou que, na época em que trocou as mensagens com Léo Pinheiro, era permitido financiamento privado de campanhas eleitorais.

Geddel explicou que, em sua candidatura ao Senado, a OAS doou R$ 700 mil ao PMDB. No entanto, o dirigente baiano afirma que isso não significa irregularidades.

A Caixa Econômica Federal informou à GloboNews que não financiou a obra transolímpica no Rio de Janeiro.

A assessoria de Michel Temer informou que todas as doações que ele recebeu foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o vice, não há irregularidade nas doações.